Em santo António as técnicas retóricas e hermenêuticas do discurso estão patentes, estruturam e ordenam quer o seu pensamento quer o seu texto, mas o pregador assume um papel de relevo no argumento retórico: parece que o carácter performativo da pregação funda-se na autoridade de quem prega, pois o pregador é a palavra ou a própria pregação; mas também na graça que é dada a quem escuta, isto é, ao auditório. Parece, assim, que a prova ou argumento racional pesa menos que o testemunho ou exemplum. Mas não é assim: a própria Sagrada Escritura exige muitas vezes o recurso e o argumento racional quando coloca pregador e auditório diante de realidades complexas ou mensagens simbólicas que são necessárias desvelar, como os conceitos derivados da soteriologia e da escatologia. Assim, o Santo aparece-nos, simultaneamente, como um autor retórico e anti-retórico: à pregação antoniana não basta a eloquência de Cícero nem a ciência de Aristóteles, mas a contemplação e a vida martirial do pregador para que a palavra pregada se torne eficaz, isto é, seja performativa. Um estudo dos sermões a partir do sistema retórico descobre na sua estrutura textual um místico que comunica e que se quer comunicar, comuma preocupação fundamental: conduzir pedagógica e persuasivamente todos os homens à montanha da contemplação ou que todos subam a Scala Jacobi, onde Cristo se encontra. As figuras, metáforas e simbolismo antonianos revelam este esforço do seu pensamento: conduzir pela via moral ou tropológica todos a Cristo. A estrutura textual e o conteúdo dos sermões permitem vislumbrar uma categoria de tempo dinâmico, soteriológico que convida o leitor e o ouvinte a entrarem para um tempo novo, qualitativo, escatológico, de concentração cristológica. Cristo é a chave, a inteligência, a escada, o pedagogo deste novo tempo e deste novo reino. Esta é a mensagem essencial do Opus Evangeliorum: a construção e a comunicação duma mundividência e duma pedagogia humana onde a Palavra e o Símbolo são a desocultação de uma realidade outra também ela real, mas espiritual. O corpus rhetoricum aplicado nos sermões permite que se faça uma hermenêutica das Escrituras tendo por finalidade alcançar o almejado sacer intellectus ou inteligência das Escrituras com o fim de persuadir e ensinar pedagogicamente os diversos auditórios. A retórica, pela sua estrutura e divisão, aplicada à pregação, facilita a comunicação e o ensino da Sagrada Escritura: o que se comunica (a Escritura): quem a comunica? Como comunica? A quem comunica? Portanto, subjaz ao Opus Evangeliorum um Corpus Rhetoricum com as características e influências de uma longa tradição retórica greco-latina, bíblica, patrística a que o Santo acrescentou a marca litúrgica da Quadriga, alterando, intencionalmente, o lugar habitual da Oração como era recomendado pelas Artes Praedicandi do seu tempo. Este é o maior contributo que o Santo dá às Artes Preadicandi.
